terça-feira, 25 de janeiro de 2011














(Clique em cima para ouvir na voz de Anna Muller)

O que faz o poeta chorar?


A indiferença
perante o sofrimento alheio...
O desprezo
pelos que mais precisam...
A falta de Amor...
fazem o poeta chorar.
E quando o poeta chora
as palavras se agitam,
os versos se agigantam,
as estrofes não param de crescer...
regadas pelas lágrimas
sentidas de emoção profunda
que escapam em barafunda
mas com intensa paixão
do seu coração.
E quando o poeta chora
por não ver o que quer,
mas com guerra deparar...
por não ouvir cantar de alegria,
mas apenas gritos de dor escutar...
por não cheirar o perfume da terra,
mas as florestas sentir queimar...
sua pena ganha asas
e revela a todo o mundo
a hipocrisia que grassa...
Mas quando o poeta chora
de emoção incontida
celebrando o amor,
dando vivas à paixão,
enaltecendo a decência,
a amizade e a dedicação...
revivendo a esperança
com o fervor de criança...
então devemos todos ouvir
e deixar o poeta chorar.

António Castel-Branco
Sintra, 02/05/2006

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011














Sons de Mulher

Lenta e paulatinamente se vai enchendo de sons
arrancados das entranhas dos instrumentos tocados
por dedos que soltam gemidos e acordes em mil tons,
pairando sofridos em bandos ao vento já lançados.

Reabre-se o céu e aumenta a cadência, o ritmo da vida,
lágrimas de sons tombam em melodias apuradas,
molhando os sentidos, embalando a canção já parida,
lavando a alma em chuva de som jamais desafinada.

E ascende alegre, em toda a sua graça e esplendor,
a rainha dos céus, sinfonia completa de amor,
de coração amplo, aberto e tocado por um só ser,

plena de força... sonata nocturna feita sem dor.
E em cânone crescente de ritmos e sons de viver
revela seu tom, nos mostra seu dom, que é o de MULHER.

António Castel-Branc
Sintra, 08/03/2006












ynIa]

Seguindo o meu caminho,
comando a roda da vida,
senhor de meu destino.
Sou guerreiro medieval,
cavaleiro feito andante,
herói de uma donzela
maltratada e esquecida
a que chamamos Terra,
a quem devemos a vida.
Combato a iniquidade,
a injustiça e a maldade...
Sou a espada que cerceia
os gritos angustiados dos pobres,
dos que nada têm...
sou a mão que se estende
para amparo do indigente,
sou alimento do faminto
e água para o sedento.
Sou o sumo, a essência,
carrego o sagrado, o profano,
sou senhor, paladino da decência,
guardião das portas da inocência,
sou homem, e por isso, ufano
de ser Deus e ser Humano.
Sou o amanhecer radioso
e o ocaso ditoso,
o ontem já passado
e o amanhã sempre adiado...
sou sussurro, sou grito,
sou rugas de dor sulcadas
na face dorida da vida.
Sou a sabedoria infinita,
o conhecimento supremo...
a análise sempre dorida
de uma dor infligida.
Sou o silêncio do cosmos,
a palavra do Universo,
intensa e infinita...
sou o grito sussurrado
da existência, do ser...
Tenho o mundo,
o universo...
a palavra
e o silêncio...
E, de posse do que é meu,
tomo as rédeas da vida,
e sigo o meu caminho.

António Castel-Branco
Sintra, 12/02/2006

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011














Mortos os deuses, ela permanece,
não se rendendo ao esquecimento,
ou a ser velha, enrugada, infeliz.
Antes desprezando isto que se diz,
sabe que o seu tempo nunca fenece,
e perpetuando este momento,
a sua beleza  nunca esmorece.

Semente da vida, ela enlouquece,
quando se vê ferida e destroçada
por ávidos homens. Quê? Não ouvis?
Sinal dos tempos, o homem contradiz,
mas sem recordar que ela não merece,
pois mesmo assim triste, magoada,
a ninguém recusa a sua benesse.

Sinal dos tempos? Qual o tempo dela?
Foi antes, agora, será depois?
Seu tempo é presente, não envelhece,
bom para os homens, de quem não se esquece.
Os  deuses não morrem, sempre de vela,
intemporais, permanecem a dois,
tornando esta vida muito mais bela.

E seja qual for a forma escolhida,
sua presença nos dá alimento,
abrigo e calor, carinho e amor.
Na natureza, qual rei ou senhor,
é mãe, é terra, é fruta colhida,
e, sem alarde, mantém o momento,
é deusa, mulher, é fonte da vida.


António Castel-Branco
Sintra, 11/03/2006














Ò lua dos amantes,
deusa eterna dos céus,
musa de almas errantes
senhora dos sonhos meus;
revela-me a face do sonho,
os lábios inebriantes
num semblante risonho
de olhares ofuscantes.

Ò lua dos apaixonados,
espelho de intensa união,
barca de deuses amados,
alvo da minha ilusão;
mostra-me o rumo do amor,
os prazeres encantados
de um coração com ardor,
de dois corpos enlaçados.

Ò lua dos navegantes,
rosto da dor da partida,
guia dos caminhantes,
semente do cosmos parida;
traz-me o sonho de amar,
sem sofrer terebrantes,
dá-me a paixão de enlaçar,
põe meus braços enleantes.

Ò lua dos indigentes,
anjo que por todos vela,
aura dos seres ausentes,
ser que queremos tê-la;
dá-me a alegria que faz
transformar todas as mentes,
alastrar ao mundo a paz
e amar todas as gentes.

Ò lua dos escritores,
adorada luz dos poetas
que cantam os seus louvores
na tinta de suas canetas;
dá-me sempre inspiração,
seja no meio de estertores,
de risos, abraços, paixão,
ou das mais sentidas dores.

Ò lua dos inocentes,
clamor daqueles que sofrem,
esteio das almas decentes,
gemido de seres que jazem
confiando que reveles
ignomínias indecentes,
também as obras daqueles
que sempre estão presentes.

Ò lua de todos nós,
refúgio de sonhadores,
corpo celeste veloz,
penhor de nossos amores;
guia-nos rumo à luz,
ao sonho de nossos avós,
com teu poder que seduz
até o ser mais feroz.

Ouvi este brado, ò lua,
ouvi este nosso clamor...
grito de paz que atroa
tornando a guerra em amor;
e com tua aura divina
transforma o som que ecoa:
és bela, és feminina,
és elo do amor, és Lua.

António Castel-Branco
Sintra,13-08-2006

terça-feira, 18 de janeiro de 2011



  
A OUTRA FACE 

Esquece o teu passado, olha o presente,
instante que não mais consegues ter,
fugaz na transição do tempo ser,
futuro que se anseia e não se sente.

As lágrimas toldando a tua mente,
memórias agarradas de sofrer,
com agulhas de sangue vais coser
as mágoas desse tempo já ausente.

Da dor assim liberta, podes ver
quão rica te tornaste no viver,
quão forte transformaste a tua vida.

Nessa doce lembrança doutro amor,
anseias novamente por penhor...
com minh'alma não mais serás ferida.

António Castel-Branco
Sintra,19-08-2006

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011












Tu aí!

Tu aí, que choras o amor perdido...
Tu aí, que sentes o coração despedaçado...
Tu aí, que olvidas o carinho recebido...
Tu aí, que ficas agarrada ao passado.
Sim, dirijo-me a ti que definhas...
a ti que te abandonas à tristeza...
a ti que te fazes palco dos desgostos...
a ti que te afastas de toda a beleza.
Tu, que te sentes martirizada...
tu, que te julgas ofendida e humilhada...
tu, vilmente abandonada...
tu, sempre triste e desolada.

E digo-te não!
Não permaneças assim prostrada...
não vivas a mentira do que passou...
não te entregues à demência amargurada...
não ofendas a memória do que amou.
Levanta-te e sorri. Sim, sorri!
Sorri como se desse sorriso
dependesse o futuro da humanidade...
Sorri com a pureza da criança...
Sorri com o carinho dos enamorados...
Sorri com as cores da natureza
que redescobres enfim...
Sorri sempre...
Sente quando sorris
que o teu futuro se abriu...
Sente quando sorris
que o mundo para ti sorriu.
E a sorrir eu digo: sim!
Tu, que enfrentas o mundo a sorrir...
Tu, que crês agora ser capaz...
Tu, que abraças as almas sofridas...
alcançaste, finalmente, o amor e a paz.

António Castel-Branco
Sintra, 09/12/2006

domingo, 16 de janeiro de 2011


Amando…

… continuo pairando nas asas
diáfanas do amor;
retenho os aromas sublimes
que emanamos
quando somos apenas um…
quando não sabemos onde
estão as linhas que separam o eu do tu…
quando os nossos corpos
se misturam e o nosso espírito
é um só!

Lânguida me encontro agora, mas
inebriada e completa…
o céu… já o atingi na plenitude do
amor; no sentir que
já não sou eu, mas…

Nos meus olhos todos verão
o teu brilhante olhar…
nos meus lábios reflectir-se-á
o teu lindo sorriso…
no meu corpo só sobressairão
os teus belos músculos…

E é então,
quando nos juntamos,
que ficamos sozinhos…
isolados do mundo…
parados no tempo…
olhando…
escutando…
sentindo…
amando!

António Castel-Branco
Sintra, 2005