domingo, 3 de abril de 2011












            Sussurro
            António Castel-Branco

            No silêncio...
            Na vastidão da mente...
            No isolamento da multidão...
            No tempo suspenso...
            No infinito...
            Mais do que o som
            do grito surdo que ecoa...
            soam os sentidos.
            Sentidos movidos pelas palavras
            que se formam na mente...
            letra a letra...
            dançando...
            rodopiando...
            zombando de quem as quer ler.
            Imagens transmitidas
            pela ausência do som...
            do ver e do sentir...
            Brado mudo arrancado
            à essência do ser
            sem tempo...
            Apelo íntimo de quem
            não sabe se é...
            se sente...
            se pensa ou existe...
            Lamento exaurido de um tempo
            já esquecido mas não passado
            e que se reaviva no instante...
            E no silêncio sem tempo,
            na paragem infinita,
            na mente suspensa...
            revela-se o ser.
            Sussurra sem se ouvir...
            cicia sem soar...
            rumoreja sem padecer...
            mas atroa os sentidos
            com o clamor
            do seu sentir.

           António Castel-Branco

            Sintra, 20/02/2007


                  
             Creditos:
             Tube mulher - Marcio C











O Riso da Saudade (sextina*)

A cálida alvorada já sorri
e teu ser rejubila de vontade
de abraçar essa estrela que se ri
ao ver-te decidida e destemida
no fim desta tão triste e curta vida,
vivida com carinho e com saudade.

No meio da tristeza da saudade
que senti ao lembrar-me que sorri
dos sonhos que aspiravas para a vida...
do modo como impunhas a vontade
às dores que enfrentavas destemida...
soltei as emoções e logo ri.

Mas as lágrimas soltas quando ri,
cintilam com o brilho da saudade
penetrante, tão forte e destemida...
que adubam o silêncio. Pois sorri,
se lutas para impor tua vontade
e decidir o rumo a dar à vida.

Pois esta já tão longa e dura vida
esculpida por alma que se ri
das desditas... da força da vontade,
escorada nos prumos da saudade,
guiada pelo vento que sorri,
é reflexo duma alma destemida.

És guerreira, amazona destemida
pelejando nas páginas da vida,
que é dura, mas por vezes te sorri...
E buscando a verdade que se ri,
sentes o tempo em troca da saudade
esgrimida em defesa da vontade.

Refém deixas de ser desta vontade
que te faz combatente e destemida
e partes, paladina da saudade
que corrói e destrói a própria vida,
em busca do firmamento que se ri
do tempo em que ditoso te sorri.

Se o tempo te sorri, faz-lhe a vontade:
abraça o sol que ri, já destemida,
e vive em pleno a vida sem saudade.

António Castel-Branco
Sintra, 19/02/2007













MÃE


Fios de seda de prata lampejados

moldando essa doçura que enternece

um sorriso que afaga numa prece

dois sóis ao firmamento sonegados.


O colo de ternuras drapejado

nas malhas que o seu seio sempre tece

amor sem condição é alicerce

de um destino de sonho cinzelado.


Como um porto de abrigo desejado

esperança de vida já perdida

acolhe no regaço abençoado


de pronto p'ra sarar essa ferida

pois a Mãe cujo nome é adorado

já foi mas acompanha a nossa vida.

António Castel-Branco

Sintra, 15-04-2010




Créditos:

Tube mulher -Guismo

Tube cogumelos - Jet

Tube pássaros - Lori Rhae













És uma estrela!


Quando a vida se acizenta

e o futuro é de dor...

quando os sonhos se tornam amargos

e só respirar um pavor...

quando ver é penoso

e falar um desespero...

quando dormir é um bem

que não consegues obter...

quando acordar se torna

no teu maior pesadelo...

quando os dias se arrastam

em segundos de tortura...

quando perdes a razão

por sentires a bater

o teu próprio coração...

quando te sentes culpada

apenas por existires...

quando os raios de sol

te ferem como aguilhões

e a água dos mares

te lembra lágrimas amargas

que soltas sem te controlar...

quando o milagre da vida

queres desperdiçar...

Sente o pulsar do amor

que te originou...

sente o brilho das estrelas

que sempre te iluminou...

sente o frémito da Terra

que por ti respirou

ou os ventos nos bosques

que te acariciou...

sente os sons do silêncio

e o silêncio do ser

que a perfeição das estrelas

soube conceber.


António Castel-Branco
Sintra, 14/04/2010



Créditos:

Tube mulher -DragomBlu

Tube paredes - Anny

Tube face flor - Leny Design

Tube face - Monique 42













 Dor
Rasga-se a esperança no ventre do cosmos
inundando de luz o silêncio da mente,
aprisiona-se o corpo que vem da semente
nesta Terra plantada por entes remotos.

No vórtice do tempo que dobra as estrelas
nas colinas do medo em que alastra o torpor
neste ocaso de vida, num leito de dor,
estrangula-se a voz, perecida nas trevas.

E num brado de cor, num abismo de fé,
vai sulcando o vazio em busca do começo,
do sentido da vida, da razão de ser...

E na mesma frequência que tudo prevê
adornamos os astros com qualquer boneco
e calamos angústias do nosso viver.

Sintra, 18/11/2009
António Castel-Branco


Creditos:
Tube mulher - Denise Worisch
imagem cidade da net














Despertar

Quando as nuvens se afastam do semblante
teu olhar ilumina a escuridão
vencendo esse fantasma: solidão!
e a vida transformando nesse instante.

Nos lábios um sorriso estonteante
reflectindo o fervor do coração
aquece, na ausência de paixão,
como gota de orvalho cintilante.

Desperta, deste modo, esse ser
para um tempo de amor e harmonia
caminhando, na luz, se assim quiser

Buscando a plenitude na baía
da emoção, da saudade e do prazer
vivendo passo a passo, dia a dia.


António Castel-Branco



Créditos:

Tube mulher - Denise Worisch
Tube cenário- Bibiche











Amante

Nas veredas do tempo retorcido,
vestígios ofuscados pelo medo
da dor... do sofrimento tão azedo
que outrora por amor foi inflingido,

surge altivo esse rosto destemido,
da vida paladino em segredo,
guardião devotado desse credo
que um dia por paixão será ungido,

e por sendas de orgulho renascido
adornado com laivos de paixão
e pétalas de um riso inesquecido,

recolher os pedaços de razão
que o amor e o tempo já vivido
plantaram nesse amado coração.


António Castel-Branco
Sintra, 21/09/2008


 
creditos:

Tube mulher - Márcio C

Tube ave - Nimue