quarta-feira, 19 de janeiro de 2011














Mortos os deuses, ela permanece,
não se rendendo ao esquecimento,
ou a ser velha, enrugada, infeliz.
Antes desprezando isto que se diz,
sabe que o seu tempo nunca fenece,
e perpetuando este momento,
a sua beleza  nunca esmorece.

Semente da vida, ela enlouquece,
quando se vê ferida e destroçada
por ávidos homens. Quê? Não ouvis?
Sinal dos tempos, o homem contradiz,
mas sem recordar que ela não merece,
pois mesmo assim triste, magoada,
a ninguém recusa a sua benesse.

Sinal dos tempos? Qual o tempo dela?
Foi antes, agora, será depois?
Seu tempo é presente, não envelhece,
bom para os homens, de quem não se esquece.
Os  deuses não morrem, sempre de vela,
intemporais, permanecem a dois,
tornando esta vida muito mais bela.

E seja qual for a forma escolhida,
sua presença nos dá alimento,
abrigo e calor, carinho e amor.
Na natureza, qual rei ou senhor,
é mãe, é terra, é fruta colhida,
e, sem alarde, mantém o momento,
é deusa, mulher, é fonte da vida.


António Castel-Branco
Sintra, 11/03/2006

Sem comentários:

Enviar um comentário