sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011














Fado


Meu fado é escrever a vida,
enaltecendo o amor,
dando vivas à paz,
olvidando as diárias desditas
que perseguem quem faz
do seu caminho de luz
(sempre esquecendo a dor)
uma constante cruzada,
pugnando por esses valores,
tão caros mas já tão raros.

E no curso da jornada
(sorrindo a orelhas moucas)
sigo sempre com a razão,
pois a pequena semente
que planto com paixão
logo germinará,
libertando a doce fragrância
da pureza do sentir,
e indicando o rumo
(liberto nunca de espinhos)
que todos devemos seguir. 

Mas se por um acaso,
ao fim dos meus dias chegar,
sem conseguir terminar
a busca, a romaria...
então não me buscais.
Sim, não me buscais
em igrejas ou funerais
ou numa campa qualquer,
pois decerto que estarei
ao lado do meu amor
(amparando sua dor?
Não, pois buscarei
que saiba que melhor estou,
pois a todos auxiliarei.)

Não sintam a minha falta.
Pois sempre que o Sol surgir
dos lados do horizonte,
assim eu despertarei,
vindo com o vento do monte...
oiçam a minha voz
no contínuo chilrear
com que os pássaros anunciam
a chegada doutro dia...
sintam o meu sorriso
surgindo sempre na crista
das ondas com que o mar anuncia
a beleza da nossa natureza...
e vejam em cada estrela
que no céu surge a brilhar,
a centelha que conheceram
de amor no meu olhar...
e antes que todos corram
por me querer encontrar,
olhem na vossa alma...
sintam o coração...
pois de guarda estarei.
Se anjo ou duende serei?
Talvez demónio ou rei?
Quiçá?
Apenas sei
que em mim vereis
o vosso guardião.
E nunca, agora ou então,
nunca em qualquer altura,
me procurem nesse lugar,
pois serei tudo e nada,
estarei em todo o local,
nunca nessa sepultura.

António Castel-Branco
Sintra, 28/10/2006

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